terça-feira, 6 de março de 2012

Artigo sobre aqueles que são um apaixonados por carros como nós.


O primeiro carro e as outras tantas primeiras coisas que aparecem na sequência.
Aquele papo de mulher de que “o carro é extensão da personalidade masculina”, mesmo que clichê e cheio de furos, tem suas verdades. Não que a imagem do veículo venha a dizer pelo seu caráter. Mas é o modo como você admira e mantém o carro que vai, em algum momento, servir como exemplificação de atitudes e argumentos por você utilizados. Assim, a imagem do seu carro acaba tornando-se uma alternativa para o seu perfil.
Alguns comparam o primeiro carro com o casamento. Especialmente fazendo analogias sobre o compromisso, responsabilidades e necessidade de atenção. Eu discordo. O carro, o primeiro carro, é algo muito mais importante do que isso. A partir do momento que você se torna um feliz proprietário de automóvel sua vida ganha em aprendizados. É possível, com o passar dos anos, utilizar lições conquistadas com a vida útil do carro na sua própria realidade.
O homem ama o carro. Os fatores que diferem as reações sentimentais, emocionais e até físicas já foram comprovas em centenas de livros , filmes e artigos. Psicanalistas explicam que a paixão pelo veículo, quando iniciada, gera uma imagem irreal do mesmo. É algo como o que você sonha com o que ele seja. Ninguém pode falar mal do seu carro. Sabe como é, certo? No relacionamento é a mesma coisa.
Com o passar do tempo, e a veracidade explícita e inevitável das personalidades – sim, carros tem personalidade, você vai entendendo que nem tudo são flores. Caso as coisas boas sobressaiam coisas ruins, o rumo natural é seguido. Se não, um botão eject é acionado e, mesmo que aos poucos, a vida e separação são inevitáveis.
E nada é mais triste que a venda do primeiro carro.

                             Geralmente o nosso primeiro carro é assim.

Somente em 2010, quatro anos após adquirir o Fiat Pálio verde, que tive a resposta. Era sim, aquele em 2003, o momento de comprar o carro. A despedida trouxe essa conclusão e um assustador flashback. Aquele carro havia carregado namoradas, amigos que já se foram e jamais me deixou na mão. Foi transporte para momentos lindos e tristes. Viveu minha vida como nenhuma pessoa. Nenhuma mesmo.
Essa é a importância do carro na vida do homem. O de referência. O meu primeiro carro ensinou-me que tudo necessita ser dividido. Mais do que um ícone fundamental e de modernidade, o primeiro carro demonstra e ensina que é preciso compartilhar os momentos. Faz-se presente a metáfora do carro como prótese do corpo, uma fusão entre metal e carne com emoções divulgadas.
O grande aprendizado deixado pelo primeiro carro, além do sentimental citado acima, é o da responsabilidade. Quando comprado antes dos 20 anos, aquele parece ser um estágio não remunerado para a vida que surge. Não é fácil, assim como o mundo, manter um carro. É preciso ter controle econômico, inteligência para manutenção e, especialmente, estar atento ao que acontece ao seu redor. Nada diferente do dia a dia corporativo.
Sendo assim, chegamos à iminente conclusão que o carro é muito mais do que um produto. Especialmente o primeiro. O primeiro carro, aquele comprado com o suor de seu esforço e que você dorme dentro nas primeiras noites, é um bem eterno. Mesmo que você se desfaça dele e parta para outro – e isso vai acontecer uma hora – sempre levará lições deixadas pelo veículo inaugural.
O primeiro carro me ensinou a dar mais valor aos carros. A ser um motorista melhor. A não acreditar em qualquer veículo de quatro rodas. A ser mais paciente. A ser sincero e admitir quando não há mais como seguir um relacionamento. Eu não sou o Galvão Bueno, mas sei o que você está pensando. E a resposta é sim. Tudo isso é muito parecido com a vida amorosa de qualquer homem. Resumindo: você terá várias namoradas. Mas o primeiro amor, apenas um.
É assim com o meu saudoso Fiat Pálio 2001. Eu ainda devo a ele. Eu ainda o amo. Mas meu atual carro não pode saber.
Não mesmo.

Fonte: Site  Papo de Homen - Lifestyle Magazine.


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