Aquele papo de mulher de que “o carro é extensão da
personalidade masculina”, mesmo que clichê e cheio de furos, tem suas verdades.
Não que a imagem do veículo venha a dizer pelo seu caráter. Mas é o modo como
você admira e mantém o carro que vai, em algum momento, servir como
exemplificação de atitudes e argumentos por você utilizados. Assim, a imagem do
seu carro acaba tornando-se uma alternativa para o seu perfil.
Alguns
comparam o primeiro carro com o casamento. Especialmente fazendo analogias
sobre o compromisso, responsabilidades e necessidade de atenção. Eu discordo. O
carro, o primeiro carro, é algo muito mais importante do que isso. A partir do
momento que você se torna um feliz proprietário de automóvel sua vida ganha em
aprendizados. É possível, com o passar dos anos, utilizar lições conquistadas
com a vida útil do carro na sua própria realidade.
O homem ama o carro. Os fatores que diferem as reações
sentimentais, emocionais e até físicas já foram comprovas em centenas de livros , filmes e artigos. Psicanalistas explicam que a
paixão pelo veículo, quando iniciada, gera uma imagem irreal do mesmo. É algo
como o que você sonha com o que ele seja. Ninguém pode falar mal do seu carro.
Sabe como é, certo? No relacionamento é a mesma coisa.
Com o passar do tempo, e a veracidade explícita e inevitável das
personalidades – sim, carros tem personalidade, você vai entendendo que nem
tudo são flores. Caso as coisas boas sobressaiam coisas ruins, o rumo natural é
seguido. Se não, um botão eject é acionado e, mesmo que aos poucos, a
vida e separação são inevitáveis.
E nada
é mais triste que a venda do primeiro carro.
Geralmente o nosso primeiro carro é assim.
Somente em 2010, quatro anos após adquirir o Fiat Pálio verde,
que tive a resposta. Era sim, aquele em 2003, o momento de comprar o carro. A
despedida trouxe essa conclusão e um assustador flashback. Aquele
carro havia carregado namoradas, amigos que já se foram e jamais me deixou na
mão. Foi transporte para momentos lindos e tristes. Viveu minha vida como
nenhuma pessoa. Nenhuma mesmo.
Essa é
a importância do carro na vida do homem. O de referência. O meu primeiro carro
ensinou-me que tudo necessita ser dividido. Mais do que um ícone fundamental e
de modernidade, o primeiro carro demonstra e ensina que é preciso compartilhar
os momentos. Faz-se presente a metáfora do carro como prótese do corpo, uma
fusão entre metal e carne com emoções divulgadas.
O
grande aprendizado deixado pelo primeiro carro, além do sentimental citado
acima, é o da responsabilidade. Quando comprado antes dos 20 anos, aquele
parece ser um estágio não remunerado para a vida que surge. Não é fácil, assim
como o mundo, manter um carro. É preciso ter controle econômico, inteligência
para manutenção e, especialmente, estar atento ao que acontece ao seu redor.
Nada diferente do dia a dia corporativo.
Sendo
assim, chegamos à iminente conclusão que o carro é muito mais do que um
produto. Especialmente o primeiro. O primeiro carro, aquele comprado com o suor
de seu esforço e que você dorme dentro nas primeiras noites, é um bem eterno.
Mesmo que você se desfaça dele e parta para outro – e isso vai acontecer uma
hora – sempre levará lições deixadas pelo veículo inaugural.
O
primeiro carro me ensinou a dar mais valor aos carros. A ser um motorista
melhor. A não acreditar em qualquer veículo de quatro rodas. A ser mais
paciente. A ser sincero e admitir quando não há mais como seguir um
relacionamento. Eu não sou o Galvão Bueno, mas sei o que você está pensando. E
a resposta é sim. Tudo isso é muito parecido com a vida amorosa de qualquer
homem. Resumindo: você terá várias namoradas. Mas o primeiro amor, apenas um.
É assim
com o meu saudoso Fiat Pálio 2001. Eu ainda devo a ele. Eu ainda o amo. Mas meu
atual carro não pode saber.
Não
mesmo.
Fonte: Site Papo de Homen - Lifestyle Magazine.
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